Sonhos Interrompidos: A Juventude na Mira da Injustiça Social
Artigo de Opinião por Maria Clara Machado
Publicado por Maria Luísa Peres

No Brasil, mais de 30 milhões de jovens entre 15 e 29 anos vivem em áreas marcadas por desigualdades sociais profundas. A maioria enfrenta limitações severas de acesso à educação, saúde, cultura e segurança. Esses obstáculos não apenas afetam o presente, mas moldam negativamente o futuro e os sonhos de toda uma geração.
Segundo o IBGE, um em cada quatro jovens brasileiros está fora da escola e do mercado de trabalho. São os chamados “nem-nem” — jovens que nem estudam, nem trabalham — não por escolha, mas por falta de oportunidades reais. Em 2023, isso representava cerca de 10 milhões de jovens nessa situação. Em muitas regiões periféricas, as escolas funcionam com infraestrutura precária, rotatividade alta de professores e ausência de recursos básicos, como bibliotecas, laboratórios e internet de qualidade.
Essa realidade tem consequências diretas. Em 2022, apenas 10% dos estudantes da rede pública alcançaram proficiência adequada em matemática no ensino médio, segundo a Avaliação Nacional da Educação Básica (Saeb). Em português, o número sobe apenas para 29%. O impacto é visível nos vestibulares: jovens da rede pública representam menos de 40% dos ingressos em universidades federais, mesmo com políticas de cotas, segundo dados do INEP.
Além disso, a evasão escolar continua sendo um problema sério: mais de 500 mil alunos abandonam o ensino médio todos os anos no Brasil, conforme dados do Todos pela Educação. Entre os principais motivos estão a necessidade de trabalhar, a falta de perspectiva e a baixa qualidade do ensino.
Diante desse cenário, é possível falar em meritocracia? Até que ponto o esforço individual é suficiente quando as condições de partida são tão desiguais? Por que seguimos normalizando um sistema que oferece caminhos tão distintos para pessoas que vivem no mesmo país?
Dados do UNICEF mostram que mais de 13 milhões de crianças e adolescentes vivem na pobreza multidimensional, ou seja, sem acesso a saneamento básico, alimentação adequada, transporte seguro e um ambiente estável para crescer. Além disso, cerca de 32% das residências com crianças e jovens não têm acesso à internet de qualidade — um fator crítico no mundo digitalizado de hoje.
A desigualdade social não é apenas uma questão econômica — é uma barreira invisível que atravessa gerações e sabota trajetórias. Quantos jovens abandonam seus sonhos todos os dias por não encontrarem condições mínimas para realizá-los? Quantos talentos se perdem em meio à invisibilidade?
É urgente que o Brasil trate a juventude como prioridade. Investir em educação pública de qualidade, ampliar programas de permanência estudantil, oferecer formação técnica gratuita, expandir o acesso à cultura e garantir conectividade são passos fundamentais — mas não suficientes, se não vierem acompanhados de políticas públicas que enfrentem as raízes da desigualdade: a fome, o racismo, o abandono e a negligência do Estado.
O futuro dos jovens brasileiros está sendo moldado por linhas de exclusão. E você, leitor, de que lado está? Do lado que enxerga essa juventude como potência? Ou do lado que prefere virar o rosto enquanto sonhos são silenciados?